quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Qual o sentido da celebração das Cinzas?



A Quarta-feira de Cinzas foi instituída há muito tempo na Igreja; marca o início da Quaresma, tempo de penitência e oração mais intensa.

Para os antigos judeus se sentar sobre as cinzas já significava arrependimento dos pecados e volta para Deus.

As Cinzas bentas e colocadas sobre as nossas cabeças nos fazem lembrar que vamos morrer; que somos pó e que ao pó da terra voltaremos (cf. Gn 3, 19) para que nosso corpo seja refeito por Deus de maneira gloriosa para não mais perecer.

A intenção deste sacramental é levar-nos ao arrependimento dos pecados, marcando o início da Quaresma; e fazer-nos lembrar que não podemos nos apegar a esta vida achando que a felicidade plena possa ser construída aqui.

É uma ilusão perigosa.

A morada definitiva é o céu.

A maioria das pessoas, mesmo os cristãos, passa a vida lutando para "construir o céu na terra".

É um grande engano.

Jamais construíremos o céu na terra; jamais a felicidade será perfeita no vale em que o pecado transformou num vale de lágrimas.

Devemos, sim, lutar para deixar a vida na terra cada vez melhor, mas sem a ilusão de que ficaremos sempre aqui.

Deus dispôs tudo de modo que nada fosse sem fim aqui nesta vida.

Qual seria o desígnio do Senhor nisso?

A cada dia de nossa vida temos de renovar uma série de procedimentos: dormir, tomar banho, alimentar-nos, etc...

Tudo é precário, nada é duradouro, tudo deve ser repetido todos os dias.

A própria manutenção da vida depende do bater interminável do cora­ção e do respirar contínuo dos pulmões.

Todo o organismo repete, sem cessar, suas operações para a vida se manter.

Tudo é transitório... nada eterno.

Toda criança se tornará um dia adulta e, depois, idosa.

Toda flor que se abre logo estará murcha; todo dia que nasce logo se esvai... e assim tudo passa, tudo é transi­tório.

Por que será?

Qual a razão de nada ser duradouro?

Com­pra-se uma camisa nova e, logo, já está surrada; compra-se um carro novo e, logo, ele estará bastante rodado e vencido por novos modelos, e assim por diante.

A razão inexorável dessa precariedade das coisas também está nos planos de Deus.

A marca da vida é a renovação.

Tudo nasce, cresce, vive, amadurece e morre.

A razão profunda dessa realidade tão transitória é a lição cotidiana que o Senhor nos quer dar de que esta vida é apenas uma passagem, um aperfeiçoamento, em busca de uma vida duradoura, eterna, perene.

Em cada flor que murcha e em cada homem que falece, sinto Deus nos dizer:

"Não se prendam a esta vida transitória. Preparem-se para aquela que é eterna, quando tudo será duradouro, e nada precisará ser renovado dia a dia."

E isso mostra-nos também que a vida está em nós, mas não é nossa.

Quando vemos uma bela rosa murchar é como se ela estivesse nos dizendo que a beleza está nela, mas não lhe pertence.

Ainda assim, mesmo com essa lição permanente que Deus nos dá, muitos de nós somos levados a viver como aquele homem rico da parábola narrada por Jesus.

Ele abarrotou seus celeiros de víveres e disse à sua alma:

"Descansa, come, bebe e regala-te" (Lc 12,19b); ao que o Senhor lhe disse: "Insensato! Nesta noite ainda exigirão de ti a tua alma" (Lc 12,20).

A efemeridade das coisas é a maneira mais prática e cons­tante encontrada por Deus para nos dizer, a cada momento, que aquilo que não passa, que não se esvai, que não morre, é aquilo de bom que fazemos para nós mesmos e, principalmente, para os outros.

Os talentos multiplicados no dia a dia, a perfei­ção da alma buscada na longa caminhada de uma vida de me­ditação, de oração, de piedade, essas são as coisas que não passam, que o vento do tempo não leva e que, finalmente, nos abrirão as portas da vida eterna e definitiva, quando "Deus será tudo em todos" (cf. 1 Cor 15,28).

A transitoriedade de tudo o que está sob os nossos olhos deve nos convencer de que só viveremos bem esta vida se a vivermos para os outros e para Deus.

São João Bosco dizia que "Deus nos fez para os outros".

Só o amor, a caridade, o oposto do egoísmo, pode nos levar a compreender a verdadeira di­mensão da vida e a necessidade da efemeridade terrena.

Se a vida na terra fosse incorruptível, muitos de nós jamais pensarí­amos em Deus e no céu.

Acontece que o Todo-poderoso tem para nós algo mais excelente, aquela vida que levou São Paulo a exclamar:

"Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (Is 64,4), tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam" (1 Cor 2,9).

A corruptibilidade das coisas da vida deve nos convencer de que Deus quer para nós uma vida muito melhor do que esta - uma vida junto d'Ele.

E, para tal, o Senhor não quer que nos acostumemos com esta [vida], mas que busquemos a outra com alegria, onde não have­rá mais sol porque o próprio Deus será a luz, nem haverá mais choro nem lágrimas.

Aqueles que não creem na eternidade jamais se confor­marão com a precariedade desta vida terrena, pois sempre so­nharão com a construção do céu nesta terra.

Para os que creem a efemeridade tem sentido: a vida “não será tirada, mas transformada”; o "corpo corruptível se revestirá da incorrupti­bilidade" (cf 1Cor 15,54) em Jesus Cristo.

Santa Teresinha não se cansava de exclamar:

“Tenho sede do Céu, dessa mansão bem-aventurada, onde se amará Jesus sem restrições. Mas, para lá chegar é preciso sofrer e chorar; pois bem! Quero sofrer tudo o que aprouver a meu Bem Amado, quero deixar que Ele faça de sua bolinha o que Ele quiser”.

São Paulo lembrou aos filipenses:

“Nós somos cidadãos do Céu!. É de lá que também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Ele transformará nosso corpo miserável, para que seja conforme o seu corpo glorioso, em virtude do poder que tem de submeter a si toda a criatura” (Fl 3, 20-21).

A esperança do Céu e da Sua glória fazia o Apóstolo dizer:

“Os olhos não viram, nem ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (Is 64,4), o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1 Cor 2,9).

E essa esperança lhe dava as forças necessárias para vencer as tribulações:

“Tenho para mim que os sofrimentos da vida presente não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada” (Rom 8,18).

Este é o sentido das Cinzas.


Felipe Aquino
Canção Nova

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