Essa pergunta desperta uma
certa curiosidade. A maior festa popular do país está se aproximando, fiquei
muito surpreso ao ler na obra: Meditações para todos os dias do ano, tiradas
das obras ascéticas de Santo Afonso Maria de Ligório, do padre Thiago Maria
Cristini, reflexões sobre este doutor da Igreja a respeito dessa festividade.
Apresento essa reflexão para nos ajudar a santificar este tempo, que,
infelizmente, tem sido de incentivo ao pecado por parte da mídia em geral.
“Guarde
a fé ao teu amigo na sua pobreza, para que também te alegres com ele nas suas
riquezas” (Eclo 22,28).
A
partir deste versículo, Santo Afonso nos ensina que, por este amigo, a quem o
Espírito Santo nos exorta a sermos fiéis no tempo da sua pobreza, podemos
entender Jesus Cristo, que especialmente nestes dias de folia é deixado sozinho
pelos homens ingratos e como que reduzido à extrema penúria.
Se
um só pecado, como dizem as Sagradas Escrituras, já desonra a Deus,
causando-Lhe injúria e desprezo, imagine quanto o Divino Redentor deve ficar
aflito neste tempo em que são cometidos milhares de pecados de todas as
espécies, por pessoas de todas as condições, e quiçá por pessoas que são
consagradas a Ele. Jesus Cristo não é mais susceptível de dor; mas, se ainda
pudesse sofrer, haveria de morrer nestes dias desgraçados e haveria de morrer
tantas vezes quantas são as ofensas que Lhe são feitas. Da mesma forma, é por
isso que os santos, a fim de fazerem um ato de desagravo ao Senhor pelos tantos
ultrajes, aplicavam-se no tempo de Carnaval, de modo especial, ao recolhimento,
à penitência, à oração, e multiplicavam os atos de amor, de adoração e de
louvor para com o seu Bem-Amado.
Nesse tempo carnavalesco,
Santa Maria Madalena de Pazzi passava as noites inteiras diante do Santíssimo
Sacramento, oferecendo a Deus o Sangue de Jesus Cristo pelos pobres pecadores.
O bem-aventurado Henrique Suso guardava um jejum rigoroso a fim de expiar as
intemperanças cometidas. São Carlos Borromeu castigava o seu corpo com disciplinas
e penitências extraordinárias. São Filipe Neri convocava o povo para visitar
com ele os santuários e praticar exercícios de devoção. O mesmo praticava São
Francisco de Sales, que, não contente com a vida mais recolhida que então
levava, pregava ainda na igreja diante de um auditório numerosíssimo. Tendo
conhecimento que algumas pessoas por ele dirigidas ficavam um pouco mais
relaxadas nos dias de folia, repreendia-as com brandura e exortava-as à
comunhão frequente.
Numa
palavra, todos os santos, porque amaram a Jesus Cristo, esforçaram-se por
santificar o tempo de Carnaval da melhor forma possível. Meu irmão, se você ama
também este Redentor amabilíssimo, imite os santos. Se não pode fazer mais,
procure ao menos ficar, mais do que em outros tempos, na presença de Jesus
Sacramentado, ou bem recolhido em sua casa, aos pés Jesus crucificado, para
chorar as muitas ofensas que são feitas a Ele.
Continuando
a reflexão, Santo Afonso afirma que para nos alegrarmos com ele nas suas
riquezas, o meio para adquirirmos um tesouro imenso de méritos e obtermos do
céu as graças mais assinaladas é sendo fiéis a Jesus Cristo em Sua pobreza e
fazermos companhia a Ele neste tempo em que é mais abandonado pelo mundo. Oh,
como Jesus agradece e retribui as orações e os obséquios que nestes dias
carnavalescos são oferecidos a Ele pelas almas suas prediletas!
Conta-se
que, na vida de Santa Gertrudes, certa vez ela viu num êxtase o Divino Redentor
que ordenava ao Apóstolo São João escrevesse com letras de ouro os atos de
virtude feitos por ela nesse período [Carnaval], a fim de a recompensar com
graças especialíssimas. Foi exatamente neste mesmo tempo, enquanto Santa
Catarina de Sena estava orando e chorando os pecados que se cometiam na
"quinta-feira gorda", que o Senhor a declarou sua esposa, em
recompensa (como disse) dos obséquios praticados por ela nesse tempo de tantas
ofensas.
Por
fim, Santo Afonso
nos convida a rezar da seguinte forma: Amabilíssimo Jesus, não é tanto para
receber os vossos favores como para fazer coisa agradável ao vosso divino
Coração, que quero nestes dias unir-me às almas que Vos amam, para Vos
desagravar da ingratidão dos homens para convosco, ingratidão essa que foi
também a minha, cada vez que pequei. Em compensação de cada ofensa que
recebeis, quero oferecer-Vos todos os atos de virtude, todas as boas obras, que
fizeram ou ainda farão todos os justos, que fez Maria Santíssima, que fizestes
Vós mesmo, quando estáveis nesta terra. Entendo renovar esta minha intenção
todas as vezes que nestes dias disser: Meu Jesus, misericórdia. – Ó grande Mãe
de Deus e minha Mãe Maria, apresentai vós este humilde ato de desagravo a vosso
Divino Filho, e por amor de seu sacratíssimo Coração obtende para a Igreja
sacerdotes zelosos, que convertam grande número de pecadores.
Padre
Clóvis Melo - Comunidade Canção Nova
http://blog.cancaonova.com/padreclovis/
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